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Mostrando postagens de fevereiro, 2009

A IGREJA E O HOSPITAL PSIQUIÁTRICO

Mesmo com todo o sinal de exuberância e vida a conclusão que chego sobre a igreja a partir da observação de alguns fatos e também da minha própria experiência de vinte anos de ministério pastoral, e pouco mais de dez anos como estudioso dos fenômenos psi, é que a igreja está doente. Acho pouco, muito pouco provável, que se Jesus nascesse hoje Ele se sentiria a vontade em qualquer igreja, de qualquer denominação, tradicional ou pentecostal, histórica, jurássica (“Baptissssssssssta”, como diz jocosamente um amigo e grande conferencista) ou neopentecostal. Se Jesus nascesse hoje Ele ficaria vagueando pelas ruas da cidade: curando os doentes, aliviando o sofrimento dos aflitos, restaurando relacionamentos partidos, brincando com as crianças, e ensinando lições preciosas a partir das múltiplas experiências do cotidiano. Ele estaria mais para o profeta Gentileza, que se dizia “amansador dos burros homens da cidade que não tinham esclarecimento” do que para os profetas engravatados da mídia.

A PERSISTIREM OS SINTOMAS

Sempre após a propaganda de algum medicamento aparece a seguinte frase de advertência: “Ao persistirem os sintomas o médico deve ser consultado.”. Na verdade o médico deveria ser consultado logo no início do aparecimento do sintoma. Mas se de médico e louco todos nós temos um pouco, a mensagem obrigatória do Ministério da Saúde tem lá sua justificativa. O hábito de automedicar-se aponta para a ânsia de livrar-se de um sintoma indesejado. Ato de loucura em alguns casos, pois de tanto tratar do efeito, sem se preocupar com a causa, o resultado é o fortalecimento do sintoma e a conseqüente diminuição do tempo entre uma manifestação sintomática e outra. No tratamento psicanalítico o que se busca não é a pura e simples remissão do sintoma. Tendo em vista que o objetivo de uma análise é a eliminação do sintoma, enquanto manifestação de dor e sofrimento psíquico, a partir da fala do próprio paciente. Por mais incrível que pareça o sintoma se desfaz a partir da fala daquele que sofre. O que

CONHECER PARA ORIENTAR: O QUE SÃO E QUAIS SÃO AS DROGAS PSICOTRÓPICAS

Introdução O livreto do CEBRID, que todos receberam, tem informações precisas sobre os três níveis das drogas psicotrópicas: as que são depressoras da atividade do SNC, as Estimulantes da atividade do SNC, e as Perturbadoras da atividade do SNC. Portanto, convido todos os participantes a examinar este material. O que leva as pessoas, em especial adolescentes e jovens, a ter contato com as drogas? Encontrei na internet um artigo do jornal “A Tribuna de Santos”, com um título bem sugestivo: “Amigos da Onça”. Comenta uma pesquisa feita do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos), feita pelo Dipe (Divisão de Prevenção e Educação), com duas mil pessoas consumidoras de drogas. Uma das conclusões é que “Pouco mais da metade — 56% dos entrevistados — afirmam que o vício começou com a colaboração de amigos e parentes. Somente 20% admitem que a primeira droga foi fornecida por desconhecidos. Quem buscou o entorpecente por conta própria representa o percentual de 16%. Aliás, a prim

FÉ E CIÊNCIA: DUAS IRMÃS TURRONAS!

“O meu psicólogo é Jesus!” Não é incomum ouvirmos esta expressão. É que ainda existe por parte de alguns crentes certo preconceito em relação as ciências psi. Se tomarmos esta expressão como uma máxima então poderíamos dizer, num sentido bem terra-terra, que Jesus também é o nosso: médico, dentista, advogado, engenheiro, e para não discriminarmos as demais profissões poderíamos também acrescentar que Ele é o nosso: pedreiro, encanador, eletricista, etc. Ou não? Fé e ciência podem ser vistas como duas irmãs turronas, daquelas que só vivem se bicando. Freud, por exemplo, disse que a religião é uma neurose obsessiva universal ( Freud [1927] – “O Futuro de uma ilusão”). Mesmo não concordando com a íntegra desta afirmação, não posso negar que ele tinha lá seus motivos para ver a religião desta forma. A leitura dos fatos depende do óculos de quem lê. O interessante é que Freud, tido como um anti-religioso, e na verdade era, pediu a um amigo chamado Pfister, um pastor protestante, com quem se

O QUE FAÇO COM OS MEUS DESEJOS

Caetano Veloso em uma de suas músicas diz que “a gente nunca sabe o que fazer com o desejo.” E é por não saber o que fazer com o desejo que muitos se vêem às voltas com toda uma trama, uma novela mesmo, daquilo que denominam ser a sua história de vida. O ap. Paulo fala da sua dificuldade em lidar com os seus desejos quando na carta aos Romanos ele diz: “Pois eu sei que aquilo que é bom não vive em mim, isto é, na minha natureza humana. Porque, mesmo tendo dentro de mim a vontade de fazer o bem, eu não consigo fazê-lo.”(grifo nosso - Romanos 7: 18 - NTLH). Agrada-me essa tradução da bíblia que substitui a palavra “carne” por “natureza humana”. Ao usar a expressão “natureza humana” o ap. Paulo trata de algo que vai além do que é visível. Instruído aos pés do sábio Gamaliel (At. 22:3; 5:34), portanto, banhado pela filosofia grega, penso que Paulo toca num ponto nevrálgico da vida: a questão do ser, que na psicanálise tem a ver com o desejo inconsciente. Este conflito psíquico apar

AINDA SOBRE A DOR DA ALMA

Recebi alguns emails e telefonemas comentando o texto “A dor da alma”, da edição do mês passado do JORNAL NOVAS. Por conta disso retomo esse tema como forma de acrescentar algumas outras considerações. Desde o nascimento até a morte a dor nos acompanha, e viver sem dor é a grande utopia da humanidade. Os livros de auto-ajuda estão entre os mais vendidos, pois apresentam aquilo que todos querem: uma receita para o alívio da dor existencial, a dor da alma. O próprio sentimento religioso, nas suas múltiplas e variadas formas de expressão, se apresenta como um ancoradouro, uma proteção contra a dor. Mas religião alguma no mundo tem o poder de eliminar a dor em definitivo. Os religiosos também sofrem e por vezes mais do que os não religiosos. No meio evangélico é comum ouvirmos alguns pregadores dizendo que Jesus preenche o vazio que existe no coração do homem. Não concordo! Se Jesus preenchesse o vazio do coração teria atendido a oração do ap. Paulo e retirado dele o que ele considerava

A DOR DA ALMA

Não pretendemos aqui discutir o controverso conceito de cura. O nosso objetivo é o de falar sobre a dor. Mas o que vem ser a dor? Sabemos que existem dores e dores. Uma é a dor objetiva, do tipo: dor de dente, dor de cabeça, dor de ouvido, dor no estômago, dor no peito, etc. Outra é a dor subjetiva, do tipo: dor da separação, dor da decepção, dor da traição, dor da desilusão, etc. Podemos dizer que a depressão, a melancolia, a angústia, o medo, são alguns dos sintomas que surgem em decorrência da dor subjetiva. Escrevi a tempos atrás um artigo com o seguinte título: “A dor do crescimento”; onde fiz referência a queixa de algumas crianças que dizem sentir dor nas pernas. É a dor do crescimento. O fato é que crescer dói. Invariavelmente as grandes lições da vida são aprendidas pelos impasses que enfrentamos na vida, ou seja, pela dor que não procuramos, muito pelo contrário, que tentamos evitar, mas que insiste em aparecer nos momentos mais inapropriados. Dor é assim mesmo: só surge na

A ODISSÉIA CONTINUA: FELIZ 2009!

Final de ano. Mais uma etapa vencida. É hora de fechar a conta, contabilizar os ganhos e aprender com as perdas. É vida que vai. É vida que vem. Tal qual uma onda no mar. As vezes o mar está pra peixe. As vezes ele nos dá cada caixote!!! É assim mesmo: mar de rosas só existe nos versos e prosas dos poetas. Na vida não é fato incomum ter que enfrentar o mar agitado, passar assustado pelo triângulo das Bermudas, onde embarcações de pequeno e grande porte, e até mesmo aviões, costumam desaparecer de forma misteriosa – não é assim que muitas pessoas aparecem e de repente e de forma misteriosa simplesmente desaparecem da nossa vida? Tranqüilidade mesmo só quando estávamos no sereno mar do útero materno. Assim mesmo só até aquele fatídico e ao mesmo tempo fascinante momento em que a bolsa placentária estourou e aquele aguaceiro todo nos arrastou correnteza abaixo em direção ao grande mar da vida. A partir desse momento o nosso destino está selado: é lutar pela sobrevivência enfrentando med

Com quem está o anel?

“Com quem está o anel?” Esta pergunta é o tema central de uma antiga brincadeira de roda que cheguei a participar quando era criança. Velho, eu? Nem tanto! Estive pensando: por que o anel e não um outro objeto? Nada é por acaso! Há toda uma subjetividade em torno do anel, enquanto símbolo de poder, autoridade, status e compromisso. O anel enquanto aliança é símbolo de um compromisso de amor entre duas pessoas que dizem se amar e por conta disso almejam uma vida em comum, através do casamento. Sobre isso a psicanalista Maria Ângela Cardaci Brasil, diz: “O anel de casamento inicialmente era um presente dado pelo noivo à noiva como um selo da promessa que ele fazia de amor e fidelidade; o anel deveria também desviar os ataques dos demônios, portanto prometia proteção.” Destacamos desta colocação duas questões: 1) o anel como um selo da promessa de amor e fidelidade, 2) o anel como símbolo de proteção dos demônios. O que mudou na promessa de amor e fidelidade simbolizada

ESPELHO, ESPELHO MEU: DO CONTO DE FADAS AO MITO DO NARCISISMO

Não existe nada mais fascinante e atraente do que um espelho. Espalhado por todos os lados ele exerce uma influência sem igual sobre as pessoas – quem resiste a tentação de passar em frente a um espelho sem dar uma olhadinha pra ver como está o “visual”. Há alguns anos atrás o espelho era um objeto super valorizado pelas mulheres e ainda continua; só que atualmente os homens também descobriram o valor estético do espelho. Dizem que é a partir do reflexo da imagem na água que surge a idéia do espelho. Na mitologia grega temos a história de Narciso que desprezava todas as ninfas que por ele se apaixonavam até que uma destas, revoltada com o descaso com que Narciso a tratava, pede que a deusa da vingança lhe imponha um castigo que o levasse a reconhecer o que significava amar e não ser correspondido. Você já passou por essa experiência de amar uma pessoa, dedicar-se a ela, quem sabe anos a fio, mas sem ser correspondido(a)? Narciso é conduzido a um lago cristalino, do