Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de abril, 2009

O OLHAR DO OUTRO

“Pode olhar! Dê uma espiadinha!” Essa é a expressão usada pelo apresentador Pedro Bial no programa Big Brother que de brother mesmo não tem nada. Vivemos uma época da predominância do olhar. Da prevalência do estético sobre o ético, onde o que importa é a forma e não o conteúdo. Época do culto ao corpo, que usa cada vez mais o recurso do apelo sensual para atrair o olhar dos incautos e cobiçadores expectadores. Vivemos a época do gozo escópico, ou seja, do prazer de olhar e flertar com a imagem do outro, mesmo que este outro esteja desgraçadamente despedaçado. Charles Melman diz que “Hoje a questão é exibir. O que se chama de gosto pela proximidade vai tão longe que é preciso exibir tripas, e o interior das tripas, e até o interior do interior. (...) O olhar é, hoje, essa espécie de torturador diante do qual nada pode ser dissimulado. Nosso jornalismo dito de investigação se deleita frequentemente com os caçadores de assuntos escabrosos e com a exibição.” O que chama atenção na telinh

FRUSTRAÇÃO E SUCESSO

O que tem a frustração a ver com o sucesso? Não seriam duas coisas totalmente opostas? No entanto, a experiência na escuta de alguns relatos e a leitura de alguns textos tem nos mostrado que em alguns casos frustração e sucesso andam de mãos dadas. Em um dos seus textos Freud comenta sobre uma mulher jovem, muito bem educada, mas que resolve deixar a sua família e aventurar-se pelo mundo a busca do prazer de viver. A família simplesmente a abomina. Com o passar do tempo e com a sua reputação de boa destruída ela enamora-se de um homem, que a leva para a casa e resolve casar legalmente com ela. É justamente neste instante em que a vida desta mulher está por ser reconstituída, inclusive com a aproximação da família que a havia rejeitado, que surgem os sintomas de uma doença mental incurável. Ainda neste mesmo texto Freud relata a história de um professor que almejava ocupar a posição de mestre com quem iniciara os seus estudos. Depois de alguns anos o professor da cadeira que ele almejav

ESPELHO, ESPELHO MEU: DO CONTO DE FADAS AO MITO DO NARCISISMO

Não existe nada mais fascinante e atraente do que um espelho. Espalhado por todos os lados ele exerce uma influência sem igual sobre as pessoas – quem resiste a tentação de passar em frente a um espelho sem dar uma olhadinha pra ver como está o “visual”. Há alguns anos atrás o espelho era um objeto super valorizado pelas mulheres e ainda continua; só que atualmente os homens também descobriram o valor estético do espelho. Dizem que é a partir do reflexo da imagem na água que surge a idéia do espelho. Na mitologia grega temos a história de Narciso que desprezava todas as ninfas que por ele se apaixonavam até que uma destas, revoltada com o descaso com que Narciso a tratava, pede que a deusa da vingança lhe imponha um castigo que o levasse a reconhecer o que significava amar e não ser correspondido. Você já passou por essa experiência de amar uma pessoa, dedicar-se a ela, quem sabe anos a fio, mas sem ser correspondido(a)? Narciso é conduzido a um lago cristalino, do qual ninguém se apro

ASAS DE CERA: A DIFÍCIL, MAS IMPORTANTE RELAÇÃO ENTRE PAIS E FILHOS.

Louca temeridade a de quem voa! Deus invisível, nos acaroçoa, Nesta jornada para a perfeição, Porém se o Sol as asas te derrete, Se o desânimo acaso te acomete, Sobe sempre nas asas da ilusão! Na mitologia grega Dédalo é o pai de Ícaro. Diz o mito que ambos foram jogados no labirinto, onde habitava o terrível minotauro – um monstro com corpo de homem e cabeça de touro – que devorava os que ali eram jogados. Por ironia do destino foi Dédalo que com sua sabedoria criou o labirinto a pedido do rei Minos, o mesmo que mais tarde o lançaria lá dentro. É a velha história do feitiço que se volta contra o feiticeiro. Por que Ícaro, o filho de Dédalo, é lançado juntamente com o seu pai no labirinto? Penso que esta foi a forma cruel do rei Minos de acrescentar um sofrimento a mais no castigo imputado a Dédalo. Por outro lado é a velha história do justo pagando pelo pecador. Para um pai não existe angústia maior do que ver o filho sofrendo em virtude dos seus próprios erros. E é assim que Dédal

SÍNDROME DO PÂNICO

Reza o mito que Pã era um deus grego da natureza que possuía uma aparência nada agradável – era muito feio – e que tinha por hábito cochilar em moitas ou grutas próximas da estrada. Sendo assim, quando um viajante desafortunado e distraído interrompia o seu cochilo, Pã ficava extremamente aborrecido e emitia um grito tão terrificante que o coitado chegava a ficar com o cabelo todo arrepiado; chegando alguns a morrer com o susto. Na literatura médica a síndrome do pânico aparece sob a classificação de Transtornos de Ansiedade. - não vem ao caso aqui descrever os sintomas que são apresentados nesses manuais. Mas vale destacar que alguns equívocos são cometidos no diagnóstico da Síndrome do Pânico, por conta do desconhecimento dos sintomas que a compõe, e também por conta de uma visão isolada em relação aos mesmos. Algumas pessoas chegam ao consultório trazendo o diagnostico a tiracolo, e dizem: “estou com Síndrome do Pânico”. Como se esta fosse fruto de um vírus ou uma bactéria. A sí

FOI SEM QUERER QUERENDO!

Você já ofendeu alguém sem querer? Você já foi ofendido por alguém, que lhe pediu perdão dizendo: “foi sem querer”? Você já pecou sem querer? No livro de Levítico interessantes. Cito alguns: “Quando alguém pecar sem intenção,...” (Lev. 4: 2), “Se for a comunidade que pecar sem intenção,...” (4: 13), “Quando for um líder que pecar sem intenção,...” (4: 22), “Se for alguém da comunidade que pecar sem intenção,...” (4:27), “Quando o conscientizarem do seu pecado,...” (4:28). Você já deve ter percebido que esse negócio de “sem querer querendo” não cola pra Deus. Como diz o ditado: “de boa intenção o inferno está cheio”. Se tem uma coisa que a psicanálise jogou por terra foram as ações equivocadas tidas como não intencionais. Esse resto inexpressivo por muitos foi tomado como matéria prima da psicanálise. Tendo o conceito do sujeito do inconsciente como determinante das nossas ações, a psicanálise vê a causalidade de uma palavra aparentemente desconexa, por vezes vista como inofensiva, como