Podemos dizer que a angústia é o sentimento de base dos demais sentimentos. No entanto, para chegar à angústia, é preciso superar as barreiras do medo e das fobias. Em geral, esses sentimentos mascaram a angústia. Esta, por sua vez, é um afeto inquietante, que produz muita agitação. Pessoas angustiadas tendem a ser agitadas. É preciso ocupar-se com inúmeras tarefas para não sentir tanto a angústia.
Via de regra, uma pessoa tomada pela angústia não sabe falar sobre ela. Algumas tentam descrever o que estão sentindo com o movimento de passar a mão sobre o peito, dizendo: “Estou sentindo um aperto, um nó na garganta, mas não sei descrever.” Essa pressão inquietante, esse sentimento indefinido, esse “nó na garganta” tem nome: angústia.
É mais fácil alguém dizer que está com medo do que admitir que está angustiado. O medo tem um motivo aparente. Já na angústia, o motivo é velado, oculto, e precisa ser decifrado. Socialmente, é mais aceitável admitir uma fobia — que, dependendo de qual seja, pode até ser vista como engraçada — do que reconhecer uma angústia. Por mais contraditório que pareça, tanto o medo quanto a fobia oferecem uma proteção frente à angústia.
A angústia incomoda quem sente e também quem ouve. Isso se evidencia, por exemplo, quando alguém tenta desabafar com um amigo e ouve: “Isso não é nada. É coisa da sua cabeça. Não esquenta. Vai passar.” Isso é terrível!
Chegar ao cerne da angústia não é tarefa fácil. Muitos obstáculos precisam ser vencidos. Infelizmente, o que temos observado hoje é uma tendência crescente à medicalização da angústia — um processo de anestesiamento neuroquímico que, muitas vezes, só agrava o problema.
Na época do estágio em psicologia clínica, atendi um paciente que dizia:
“Vim aqui porque, por diversas vezes, fui à emergência do hospital sentindo palpitações no coração, sudorese, e com um medo terrível de estar morrendo. Mas, todas as vezes, depois de ser atendido e examinado, os médicos diziam: ‘Seus exames laboratoriais estão normais. O senhor não tem nada.’”
Pausa aqui para dizer algo importante: a angústia pode ser caracterizada como um forte medo do nada.
Voltando ao caso, o procedimento médico era sempre o mesmo: receitar um tranquilizante e liberá-lo. Com o aumento da frequência das crises, em um dos atendimentos, um médico sugeriu que ele procurasse um psicólogo. O diagnóstico dado foi: síndrome do pânico. Foi assim que o paciente chegou ao atendimento, trazendo o diagnóstico a tiracolo.
No primeiro encontro, disse:
“O médico falou que estou com síndrome do pânico e me orientou a buscar um atendimento psicológico. Por isso estou aqui. Sei que os psicólogos gostam de ouvir a história das pessoas. Vou contar rapidamente a minha, mas adianto que não tem nada a ver com o que estou sentindo.”
Essa colocação chamou minha atenção. Ele prosseguiu:
“Eu detestava o meu pai. Ele era muito violento. Sentia raiva dele. Um dia, um ladrão entrou em nossa casa e meu pai lutou com ele, conseguiu desarmá-lo, mas levou um tiro na perna e precisou ficar imobilizado por alguns meses. Aproveitei que ele não podia reagir e o xingava. Um dia, ao entrar no quarto, vi que ele havia se enforcado na haste do ventilador. Fechei a porta e não me lembro de mais nada sobre isso.”
Interrompeu a narrativa de modo abrupto. Depois de uma pausa, disse em tom irônico:
“Só contei essa história porque sei que os psicólogos gostam de ouvir histórias. Mas creio que isso não tem nada a ver com o que estou sentindo.”
E finalizou com uma pergunta aguda: “E aí, doutor?”
Apresento esse recorte clínico para reforçar o que foi dito anteriormente: a fobia e a síndrome do pânico muitas vezes aparecem como disfarces para a crise de angústia.
Freud falou da neurose de angústia como um acúmulo de excitação que não encontra via de elaboração psíquica adequada. Sem um meio de descarga, essa excitação vai se acumulando e, de tempos em tempos, irrompe de forma abrupta, sob o disfarce de fobias.
Para muitas pessoas, é mais fácil tratar o medo ou a fobia do que a angústia. Para o medo e as fobias, existem remédios. Mas, para a angústia, o remédio é a fala. Esconder ou mascarar a angústia é como tentar represar um volume de água além da capacidade do reservatório. Com uma diferença fundamental: a água represada gera energia; já o represamento da energia psíquica produz esgotamento, depressão e outros transtornos emocionais e físicos.
Existem várias maneiras de entendermos a depressão. Como já disse em vídeos anteriores, a depressão não é resultado de um único fator, mas sim de vários fatores. Hoje, quero falar da depressão como consequência do infarto da alma — um estrangulamento interior causado pelo represamento das emoções e pelos traumas da vida que não foram devidamente elaborados. Para explicar essa ideia, quero fazer uma analogia com o que conhecemos da medicina. O infarto do miocárdio é uma doença caracterizada por placas de gordura que se acumulam nas artérias coronárias, obstruindo a circulação sanguínea. Quando uma dessas placas se desloca, forma-se um coágulo que interrompe o fluxo de sangue, levando à diminuição da oxigenação das células do músculo cardíaco (miocárdio), o que resulta no infarto. Na página da Sociedade Brasileira de Cardiologia, há um cardiômetro que marca, em tempo real, o número de pessoas que morrem no Brasil por problemas cardíacos. A média é de um óbito a cada 90 segundos. E o ...
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