Final de ano. Mais uma etapa vencida. É hora de fechar a conta, contabilizar os ganhos e aprender com as perdas. É vida que vai. É vida que vem. Tal qual uma onda no mar. As vezes o mar está pra peixe. As vezes ele nos dá cada caixote!!! É assim mesmo: mar de rosas só existe nos versos e prosas dos poetas. Na vida não é fato incomum ter que enfrentar o mar agitado, passar assustado pelo triângulo das Bermudas, onde embarcações de pequeno e grande porte, e até mesmo aviões, costumam desaparecer de forma misteriosa – não é assim que muitas pessoas aparecem e de repente e de forma misteriosa simplesmente desaparecem da nossa vida?
Tranqüilidade mesmo só quando estávamos no sereno mar do útero materno. Assim mesmo só até aquele fatídico e ao mesmo tempo fascinante momento em que a bolsa placentária estourou e aquele aguaceiro todo nos arrastou correnteza abaixo em direção ao grande mar da vida. A partir desse momento o nosso destino está selado: é lutar pela sobrevivência enfrentando medos, fantasmas, monstros, demônios, e tudo o mais que vier pela frente. Navegar é preciso!
A vida é uma Odisséia que premia os corajosos e abate os covardes. A Odisséia é nome do poema de Homero, datado aproximadamente por volta do século VIII A.C, que retrata as venturas e desventuras de Ulisses que com sua embarcação singra o mar em direção a sua terra natal, numa viagem repleta de episódios inesperados e inusitados. Destaco aqui alguns episódios desta viagem e traço um paralelo com a grande viagem da vida, a nossa Odisséia.
Os comedores de Lótus – Diz o mito que depois de enfrentar uma enorme tempestade a embarcação de Ulisses foi levada ao país dos comedores de Lótus. Os habitantes desta região recebiam os que chegavam em seu país com muita hospitalidade e a eles ofereciam o seu principal alimento – o lótus. Só que os que comiam esse alimento ficavam encantados, enfeitiçados, com aquele país e esqueciam por inteiro de sua própria terra, desejando ali ficar por todo o tempo.
Comida é símbolo não somente do alimento que sacia as necessidades do corpo. É também símbolo do prazer, da satisfação de um desejo insaciável que está além da necessidade de alimentar-se. Não é assim que o bebê chora aparentando estar com fome, mas quando colocado no peito da mãe dorme sem dele extrair o leite? Já diz o texto sagrado que nem só de pão o homem viverá. Mesmo como adultos somos carentes de afeto, carinho, atenção, e amor. Mas é preciso estar avisado para não cair na teia daqueles que de forma tão melodiosa e encantadora tem por objetivo último a escravidão, o aprisionamento. Que dará o homem em troca da sua vida?
Os Cíclopes eram gigantes de um olho só que moravam nas cavernas. Diz o ditado popular que na terra de cego quem tem um olho só é rei. Mas se tem uma coisa que pessoas de visão limitada não gostam é de pessoas que possuem uma visão mais acurada que a deles. Os ciclopes hoje não estão em cavernas, mas sim nos escritórios, nas empresas, até mesmo nas igrejas, prontos para destruir aqueles que pra eles se apresentam como uma ameaça. Para lidar com os Cíclopes é preciso ter a simplicidade de uma pomba e a prudência de uma serpente. Foi assim que Ulisses se livrou deles.
As sereias se constituíam num grande desafio para os marinheiros incautos. Com um doce canto elas seduziam, mexiam com as emoções e despertavam paixões avassaladoras. Os que se deixavam levar pelo canto que as sereias entoavam se lançavam no mar e eram arrastados para as profundezas do mar. As sereias de hoje já se adaptaram a vida fora d’água, e procuram seduzir os viajantes através de anúncios nos jornais, nas revistas de nu artístico, internet, e as mais audaciosas se expõem como mercadoria nas grandes avenidas da vida. Quem quer ser bem sucedido em sua Odisséia precisa tomar cuidado com as sereias e com os “sereios” que estão por aí.
Na Odisséia Ulisses enfrenta muitas outras venturas e desventuras até chegar ao seu palácio real e encontrar-se com sua esposa amada. O que nos leva a considerar que o que levou Ulisses a superar todos os desafios que enfrentara foi a força do amor. O amor é o combustível que nos leva a atravessar o oceano da vida, superando todos os obstáculos. Quem ama vence. Quem ama se supera. Quem ama surpreende. O amor é indestrutível. É eterno. Deus é amor!
Se a Odisséia é um mito, um poema, sua vida é uma realidade. Sendo assim escreva-a da melhor maneira possível. Feliz 2009!
Ailton Gonçalves Desidério
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