Não sei se você já observou que tem cada louco na igreja, refiro-me as igrejas evangélicas. Tem cada figura! Fala sério! Calma! Não estou julgando e nem desmerecendo a igreja e nem os loucos. Diria que formam um casal perfeito! Se o pessoal da saúde mental soubesse como a igreja sabe lidar com os loucos não criticaria tanto. A igreja é mais tolerante com os loucos do que muitos outros espaços que se dedicam ao tratamento da loucura. Eles deveriam vir nos visitar para aprenderem com a gente.
Tudo bem que em uma igreja e outra, em geral as mais penteca, o louco é confundido com endemoninhado. É que algumas loucuras dos loucos assustam mesmo. Mas a verdade é que as vezes o cabra está é endemoninhado mesmo. E aí não adianta conversa. É levantar a voz e dizer: “Sai em Nome de Jesus...”. E não é que funciona! Depois o louco fica calminho, calminho. Passado esse susto e com um pouco mais de lucidez de ambos os lados fica mais fácil verificar o nome do demônio: embriaguês, drogas, angústia, solidão, depressão, ou se é frescura mesmo. Tem cada louco fresco! Conheci um irmão que dizia que espírito imundo a gente tira na oração, mas espírito de porco precisa ser tirado na ... . Deixa isso prá lá. Afinal de contas somos malucos beleza e contra a violência.
Nos tempos da psiquiatria tradicional havia uma cartografia hospitalar da loucura. Tal qual um hospital geral que divide as clínicas médicas por alas, os loucos eram classificados e divididos em categorias: esquizofrênicos, histéricos, compulsivos, agressivos, os malucos beleza, e daí por diante. Graças a Deus que essa prática já foi abolida. O movimento classificado como anti-psiquiatria desmistificou a loucura pontuando a necessidade do louco estar inserido dentro de um contexto social que o acolha com suas esquisitices. Sobrou para a igreja. Você já percebeu como os loucos gostam da igreja? Mas alguns loucos mais proeminentes na igrejas ainda estão usando a prática de classificar a loucura, dizendo: aquele ali acha que é sansão, aquela ali mais parece uma Jezabel, aquele outro tem um jeitão de Jônatas, aquele é um bobalhão mesmo! Santa ignorância!
Loucura tem a ver com fixação. Não tente desmentir o delírio de um louco. Aí é que o louco fica louco. É que o que é mentira pra você é verdade pra ele e ai daquele que diga o contrário. Já observou como os loucos são intransigentes e teimosos? Nesse sentido acho que podemos falar de um tipo de loucura que tem crescido muito em nossos dias. Refiro-me ao que denomino como loucos pela igreja, pelo templo, pelo espaço sacralizado e divinizado. Esses loucos são brigões e extremamente apegados a instituição chamada igreja. Sem ela eles não vivem. As pessoas, os crentes, acometidos por esse tipo de loucura, caracterizada pela fixação, não arredam o pé da igreja, digo, do espaço que ele aprendeu a sacralizar, divinizar, com número e cep. Nem com camisa de força. É como um cachorro que não larga o osso, desculpem se a comparação é forte, é só pra ilustrar melhor.
Examinando o Novo Testamento encontramos um indicativo sintomático desse tipo de loucura. No monte da transfiguração quando Moisés e Elias apareceram para a alguns dos discípulos, Pedro, o mais louco de todos, disse para Jesus: “Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, façamos aqui três tabernáculos, um para ti, um para Moisés, e um para Elias.” Que loucura! O mundo pegando fogo lá embaixo e Pedro querendo montar acampamento no alto da montanha!
Mas não é isso o que os loucos pela igreja estão fazendo hoje? Com uma diferença: o acampamento está mais sofisticado. Agora já não se fala mais de templo, mas de C-A-T-E-D-R-A-L! Tem cadeiras acolchoadas, ar condicionado central, som ambiente, as vezes fico meio alto e distorcido, mas dá pro gasto, imagem digitalizada, coisa fina. Quem é louco de deixar um ambiente como esse pra sair e conversar com os loucos desiludidos, atribulados, perturbados, oprimidos, que ficam perambulando pelas ruas da cidade? Quem disse que louco não gosta de conforto? Alguns loucos pela igreja se atrevem até a dizer: “aqui na igreja eu me sinto como se estivesse no céu!”. Mas pergunta se ele gostaria de deixar tudo e partir logo para eternidade. Com certeza diria: “Você tá louco! Tudo tem o seu tempo! Tenho filhos para criar!”
Vamos acabar logo com essa conversa de doido, cheia de rodeios, sem pé nem cabeça, que aqueles que se consideram normais, lúcidos, acham, com certa razão, que não leva a lugar nenhum. Mas antes eu gostaria de saber: “a que horas começa o culto na sua igreja neste domingo?”
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