Diz o ditado que a arte imita a vida. E é assim que surgem os dramas que nos emocionam e nos leva a refletir na nossa própria vida. As vezes no final de um filme aparece aquele avisozinho idiota: “Qualquer semelhança é mera coincidência”. Que semelhança nada. Tudo foi feito e montado para aproximar o máximo possível a ficção da realidade e assim tocar na nossa emoção provocando as lágrimas, que podem ser torrenciais ou disfarçadas pela desculpa de que foi apenas um cisco. Você já chorou ao assistir um filme?
A proposta do filme é apresentar uma reflexão sobre a vida, a partir da história do personagem central, chamado Eddie, que tem uma vida marcada por muitos episódios difíceis. Quem pensa que a vida é fácil está redondamente enganado. Viver é bom, mas tem um preço. O problema é que as vezes nós inflacionamos a vida e achamos que somos o supra sumo da raça humana, e as vezes deflacionamos a vida e nos sentimos pior do que o coco do cavalo do bandido. É assim mesmo. O equilíbrio é uma arte. O equilibrista vive sempre entre a queda e a glória.
Eddie cresce numa família desestruturada, com um pai violento, do tipo durão, portanto, sem nenhuma expressão de amor e carinho. Lá vem a história do pai! Na estrutura familiar o pai é o responsável em instaurar a lei, mas isso não significa que ele deva ser ignorante, intransigente, que resolve tudo no tapa. Mas o pai não pode ser frouxo. Certa ocasião ouvi de uma doutora em psicologia que “pior do que o pai durão é o pai frouxo, o pai ausente.” A posição do pai não é uma posição confortável. Não é fácil ser pai. Talvez por conta dessa dificuldade que muitos pais estejam abandonando a família por não agüentarem o peso da responsabilidade de ser pai. Mas fugir não é a solução e um problema não resolvido acaba gerando um problema maior. O que estamos vendo na sociedade hoje, caracterizada pela ausência de limites, não seria reflexo da ausência do pai, daquele que instaura a lei, daquele que sabe ou deveria saber dizer não?
A vida é dura e as vezes parece que ela escolhe algumas pessoas para sofrer o sofrimento de todos. Destino? Destino não existe! O que existe é uma história que precisa ser construída e em alguns momentos resignificada. É a velha história do limão e da limonada. Através do personagem central o filme mostra os momentos difíceis: traumas, dor, perdas, que marcaram a vida de Eddie, e que por não terem sido resolvidos fizeram dele um homem azedo e solitário. Pessoas como Eddie criam defesas psicológicas contra a dor e o sofrimento. Mas por detrás da couraça de Eddie havia uma pessoa dócil, gentil, capaz de dar a própria vida para salvar a vida de uma criança. Quantos Eddies existem a nossa volta? Se soubermos e conseguirmos furar a blindagem da autodefesa conseguiremos encontrar uma pessoa boa, dócil e amável.
Viver sem sofrer é ilusão. Quem é que consegue? Nem Cristo conseguiu. A grande questão da vida não é prioritariamente viver sem sofrer, mas sim o que fazemos com o sofrimento, com a dor de existir. Um homem procurou um rabi com a seguinte pergunta: “Como posso aceitar as coisas ruins da vida?” A resposta do rabi foi: “Tenho um discípulo que pode ajudá-lo... Ele vive em tal lugar... agora vá até ele.” O homem sofredor seguiu a orientação do rabi. Ao chegar a casa onde encontraria a pessoa que responderia a questão que tanto o incomodava observou que o estado da casa era lastimável, demonstrando uma profunda miséria. Mesmo assim ele bate na porta e para sua surpresa é atendido por um homem cego e muito doente. Ele explicou a razão da sua visita, no que o homem respondeu: “Mas eu não compreendo... Por que o Maguid mandou que viesse até mim? Logo a mim, que nunca tive um dia ruim em toda a minha vida!” (Nilton Bonder. “A arte de se salvar”).
O filme “As cinco pessoas que vou encontrar no céu” fala de uma revisão da vida, a partir de episódios marcaram a vida do personagem central. Mas quem foi que disse que no céu nos lembraremos das tristezas desta vida? Quem foi que disse que morto tem memória? Se você tem que fazer uma revisão da sua vida, da sua história, é bom que faça logo, porque depois...
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