Depois de um breve recesso aqui estamos nós de volta. Em geral o retorno é sempre melhor do que o começo. Espero que esse não seja a exceção. Agradeço ao Pr. Gilton, diretor do Novas, pela oportunidade de voltar a usar este espaço.
Quero falar nesse artigo sobre o valor da escuta e o barulho das vuvuzelas, aquelas cornetas de plástico que viraram moda entre os torcedores africanos nessa copa do mundo. O que se comenta é que o barulho é tão intenso que pode até causar problemas de surdes. Imagina duas pessoas sentadas em um estádio da África do Sul, com as vuvuzelas tocando a pleno pulmões, tentando falar uma com a outra. Simplesmente impossível! Mas se falo das vuvuzelas não é para criticar a alegria dos nossos irmãos africanos, mas para destacar que mesmo sem tê-las soprando em nossos ouvidos vivemos numa sociedade em que a escuta anda em baixa.
Escutar é mais do que uma arte. É uma necessidade psico-espiritual. Na Bíblia encontramos alguns textos que falam do silêncio de Deus, algumas vezes interpretado de forma equivocada como descaso da parte de Deus. O silêncio de Deus não significa que Ele está alheio aos nossos problemas, mas sim que Ele está nos ouvindo com toda atenção.
A Bíblia é realmente um livro eclético. Nela encontramos um livro amoroso, quase erótico, mas não pornográfico como o de Cântico dos cânticos, e um livro só de lamentações, chamado de Lamentações de Jeremias. Você sabe qual a maior necessidade de uma pessoa que tem um lamento? Ter alguém para escutar o seu lamento.
Infelizmente vivemos em um mundo de muitas falas e poucas escutas. Um mundo barulhento: enquanto muitos pulam e gritam dentro e fora dos estádios outros gemem e choram, no silêncio da noite, na maca fria de um hospital público, na solidão de uma rua escura. O que elas mais querem? Alguém para escutá-las.
A escuta anda escassa até mesmo dentro de casa, onde os quartos da casa viraram guetos, cabeças de porco, com televisão, som, computador, e se não tem fogão é porque a comida vem direto do microondas. Na igreja a escuta também anda em baixa. De tanto ouvir falar de vitórias os crentes estão ficando surdos para o lamento daqueles que estão sofrendo. Quando uma pessoa, um irmão, tomado por sua aflição tenta romper a barreira do silêncio, da indiferença, e procura um irmão para conversar, desabafar, o abençoado logo diz: “acho melhor você falar com o pastor”.
Penso que se a parábola do Bom Samaritano fosse escrita em nossos dias ela não versaria sobre um homem ferido e caído no chão precisando de socorro para as suas feridas externas. Falaria de um homem caído no chão ou trancado dentro de uma mansão, deprimido, precisando tão somente de alguém para escutar a sua história triste. O tranqüilizante pode amenizar as emoções, mas só uma escuta empática tem o poder de curar as feridas da alma.
Existem falas e falas. Escutas e escutas. Uma é a escuta de Deus e outra é a escuta atenciosa de um membro da família, de um amigo, de um irmão em Cristo, de um pastor, de um psicólogo, de um psicanalista. Cabe cada um escolher o tipo de escuta que quer ter. Até porque ficar chorando pelos cantos, dizendo pra si mesmo: “ninguém me ama, ninguém me quer”, não resolve o problema. Quem usa o sentimento de autocomiseração para atrair a escuta de uma pessoa alcançará no máximo um minuto de atenção.
Sobre as vuvuzelas prefiro o barulho delas do que ver a seleção brasileira voltando silenciosa e cabisbaixa pra casa por ter perdido o título. Ainda mais se for para os hermanos. Aí quem vai escutar é o Dunga!
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