Mais um caso estarrecedor, com requintes de crueldade, ocupa um grande espaço na mídia. Refiro-me ao caso envolvendo o cidadão Bruno, ex-goleiro do flamengo. Segundo apontam as investigações, ele planejou e executou o plano macabro de assassinato da jovem Eliza Samudio. Uma alquimia do diabo envolvendo Sexo-dinheiro e poder. Uma combinação mais do que explosiva que tem o desejo como elo de ligação entre as partes. Desejo que na hora “H” não pensa nas conseqüências mas, quer porque quer ser realizado.
Segundo declarações do próprio Bruno, a relação com a jovem Eliza Samudio aconteceu numa festa de orgia sexual. O ato seguinte foi uma gravidez “indesejada” e um conseqüente pedido de pensão por parte da amante. É o lado amargo do pós desejo. Um jovem com um futuro brilhante pela frente, um excelente salário, com uma imagem de bom moço, preso sob a acusação de ter cometido crime tão hediondo.
As explicações sobre esse episódio serão múltiplas e passarão pelas mais diversas áreas do saber: teológico, sociológico, psicológico, jurídico e outros. Mas vale ressaltar que o caso Bruno não é um fato isolado. É só exercitarmos nossa mente e logo nos lembraremos do caso Nardoni, envolvendo a morte da menina Isabella lançada do sétimo andar do edifício onde morava com o pai e a madrasta; do menino João Hélio que foi arrastado por bandidos pelas ruas de Osvaldo Cruz; e da jovem Suzane Von Richthofen que junto com o namorado matou de forma brutal os próprios pais.
Não quero dar nenhuma explicação sobre o caso Bruno. Só quero chamar a sua atenção para um fato muito importante: cuidado com o desejo! O desejo, tal qual concebeu Freud em sua teoria é imoral, irracional, e ateu. Ele até pode ser controlado satisfatoriamente pela moral, pela razão e pela religião, mas é preciso saber que é pertinente ao desejo buscar uma forma, uma saída, uma maneira possível de vencer a censura imposta pela barreira consciente na busca de sua realização.
Calma! Muita calma nessa hora! Não estou generalizando o caso Bruno dizendo que o mesmo que aconteceu com ele pode acontecer com você. Muito menos tentando ocupar a posição de advogado do diabo, colocando-o como vítima e lançando toda culpa no desejo inconsciente. Só estou querendo chamar a sua atenção para uma realidade inegável, que é: precisamos tomar cuidado com os nossos desejos.
Quando Caim intentava em seu coração matar o seu irmão Abel, Deus o chamou e disse: “o pecado jaz à porta, e sobre si será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar.” (Gn. 4:7). É preciso aceitar o fato de que oscilamos entre os desejos mais altruístas e os desejos mais indecorosos e inaceitáveis, socialmente falando.
A pergunta mais comum num momento como este é: por que uma pessoa que tem um excelente salário, uma posição de reconhecimento social, uma carreira promissora pela frente, pode cometer tal ato? Tal pergunta é antes de tudo preconceituosa, pois parte do pressuposto que tais atrocidades só são cometidas por pessoas incultas, pobres e miseráveis, desconsiderando que o homem, independente da posição social que ocupa e do poder aquisitivo que tenha é sim um ser atravessado pelo desejo. Desejo que pode construir ou destruir, dar a vida ou tirar a vida.
Episódios lamentáveis como esse colocam em cheque o liberalismo desenfreado que vivemos. Liberalismo irresponsável, diga-se de passagem, pois baseia-se tão somente na satisfação do desejo sem levar em conta que se a satisfação do desejo é prazerosa, e é, existe um preço alto que nem todos querem pagar. Por isso que as vezes vale mais a pena conter o desejo do que realizá-lo e depois tentar sair pela porta dos fundos, sem querer pagar a conta.
Não quero demonizar o desejo. Sem ele não há vida. Mas na alquimia do diabo é o desejo que faz a ponte entre os elos. Fique esperto!
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