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CALEIDOSCÓPIO: AS MÚLTIPLAS FACES DA VIDA!


Como diziam os hippies nos idos anos de 1970: “a vida é um barato!”. E é mesmo. Pena que o “barato” deles era caro para vida. A vida é única e múltipla ao mesmo tempo. Multiplicidade aqui não tem nada a ver com máscaras, com dupla ou tripla personalidade, hipocrisia, nada disso. Tem a ver com as possibilidades de a qualquer instante poder criá-la ou recriá-la.

Durante o tempo de gestação no útero materno estávamos protegidos, envoltos, por uma bolsa repleta de um líquido chamado líquido amniótico. Mas a bolsa estourou, o líquido se esparramou e a vida desabrochou. A vida é bela!

Ao sermos despejados do velho útero materno fomos lançados num mundo não tão materno como o anterior (que o diga a primeira palmada que recebemos como boas vindas), mas com espaço suficiente para poder se espreguiçar, espichar, mudar, transformar, criar e recriar. Um mundo onde o céu é o limite. E como a gente não sabe onde é o céu, é só fazer como diz a letra da música “Aquarela”, do Toquinho: "Numa folha qualquer/Eu desenho um sol amarelo/E com cinco ou seis retas/É fácil fazer um castelo..."

As múltiplas imagens da vida podem ser comparadas as múltiplas imagens de um caleidoscópio, formadas a partir da incidência da luz sobre os inúmeros pedaços de vidros coloridos que existem em seu interior. Na vida, a depender do ângulo que você vê as coisas, quer sejam boas ou ruins, é possível ver inúmeras imagens, com inúmeras possibilidades. Por que, então, alguns insistem em ver as coisas, os problemas, os impasses, de um ângulo só? Certa vez li num livro direcionado ao público infantil que: “o pouco pode ser muito e o muito pode ser pouco, dependendo do jeito que se vê”. Você já experimentou ver a vida por outro ângulo?

Se você não está satisfeito com sua vida, por que você não muda? É! Não muda? Como? Mudando! As mulheres são craques nisso. Quando elas se sentem pra baixo procuram um salão de beleza e vão logo dizendo para o cabeleireiro: “quero um penteado novo, uma pintura nova, algo diferente e pra cima. Estou precisando dar uma levantada no meu astral, na minha auto-estima!”. E quando elas dizem isso é porque a coisa está feia... Mudar a estética já é um passo importante, mas é preciso saber, e as mulheres sabem muito bem, que a maquiagem se desmancha com as lágrimas e a chapinha com a chuva.

Antes de mudar a estética da vida é preciso mudar a ética na vida. A ética da vida diz respeito ao cumprimento das leis, das normas, das regras, nas relações interpessoais. Já a ética na vida diz respeito ao modo de tratar a própria vida. Por que algumas pessoas são tão honestas e corretas com as outras, mas desonestas consigo mesmas? Viver para agradar as pessoas não é difícil. É insano! Perguntaram a um ilustre desconhecido qual era o segredo do sucesso, e ele respondeu: “O segredo do sucesso eu não sei, mas o segredo do insucesso eu sei: queira agradar todo mundo!”.

Configuração é uma palavra muito em moda hoje em dia. Qualquer pré-adolescente iniciado no mundo da informática zomba daqueles que com mais idade não possuem tanta familiaridade com o computador, dizendo: “Se deu pau será preciso formatar o HD.”. Com isso o rebelde está dizendo que será preciso reinstalar alguns programas e começar tudo de novo. A vida também é assim: quando ela dá pau é só reconfigurar a mente, reinstalar alguns programas e começar de novo; caleidoscopicamente, ou seja, com um novo olhar, uma nova perspectiva, uma nova disposição.

A neurose, enquanto marca subjetiva da divisão do sujeito, é a grande responsável pela continuidade ranheta de ver as coisas sempre sobre o mesmo ângulo, o mesmo prisma. O neurótico, em especial o neurótico obsessivo, não admite mudanças e muito menos a possibilidade de um novo olhar. O sofrimento do neurótico se deve a condição que ele mesmo se impõe de viver amarrado em seus pensamentos catastróficos.

É sustentando uma visão negativa do futuro que o neurótico vive a sua vidinha em preto e branco. Para o neurótico, o caleidoscópio, enquanto símbolo de possibilidades múltiplas de ver e encarar a vida, não passa de um monóculo com um pano preto no fundo.

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