Pular para o conteúdo principal

UMA RELIGIÃO PARA VIVER


Será que precisamos de uma religião para viver? Se não precisamos, então isso significa que não precisamos de igrejas, templos, denominações? O objetivo deste artigo é falar da religião não como uma boa escolha: criativa, libertária, gostosa, estimulante, solidária, com mais compaixão e menos indiferença, com mais amor e menos egoísmo, com mais Graça e menos culpa; mas da religião enquanto sintoma característico da neurose obsessiva.

Gosto de uma definição dada por Rubem Alves sobre teologia – a religião cristã é construída a partir de dogmas teológicos – que diz que a teologia é como uma rede que um pescador constrói para pegar peixes, mas Deus é vento e não se deixa capturar. Muito bom.

Por vezes fico pensando: se Jesus viesse hoje qual igreja, de qual denominação, ele freqüentaria? Você já imaginou Jesus entrando em uma igreja neopentecostal, superlotada, com o pastor dirigindo um show de milagres, gritando: “quem ficou curado jogue a bengala fora, quebre os óculos, pule da cadeira de rodas”; acrescentando em seguida: “agora traga a sua oferta pelo milagre recebido”. Será que Jesus participaria de uma igreja assim?

Mas e se Jesus entrasse numa igreja daquelas bem tradicionais, com tecnologia high tec, cadeiras estofadas, ar condicionado gelando, onde tudo acontece bem certinho, dentro do script previamente estabelecido, como se o culto, ou a missa, fosse uma peça bem ensaiada. Uma igreja que quando você abre a porta recebe logo aquele golpe de ar frio, que pode até causar paralisia facial, mas que não vem do ar condicionado. Será que Jesus participaria de uma igreja assim?

E se Jesus viesse a uma igreja batista, num domingo de assembléia, ou num dia da famigerada reunião de obreiros, no caso dos nossos primos, numa reunião de presbitério, ou, quem sabe, num auditório chique onde estivesse acontecendo a magna assembléia convencional baptisssta, como diz um grande amigo meu, com irmãos bem vestidos, eloqüentes, dirigindo palavras “doces” e “amáveis” uns para os outros, do tipo: “Excelentíssimo e venerável presidente, tenho uma questão de ordem”. Para em seguida despejar um vernáculo nada cristão, “*%&@!#”,com palavras duras, ofensivas, sarcásticas, vis, que raramente são ouvidas em outros ambientes. Será que Jesus participaria de uma igreja ou de uma reunião assim?

Freud estava certo quando disse que a religião cristã é uma neurose obsessiva coletiva. O neurótico obsessivo constrói ritos repetitivos, regras minuciosas, labirintos intermináveis, aprisionando-se em verdadeiras gaiolas douradas como forma de reprimir os seus desejos, invariavelmente ligados a sua sexualidade. Isso sem contar que o obsessivo vive constantemente sobre o peso de um terrível complexo de culpa.

A religião está para o obsessivo assim como a mosca está para o mel. É tudo o que ele procura: um lugar marcado por ritos, práticas repetitivas, regras minuciosas, e o mais importante: fundamentado num forte complexo de culpa. O obsessivo se realiza, agradece, e diz: “Bate! Pode bater. Eu gosto!”.

Freud estava certo. A religião cristã, construída a partir de vários arcabouços teológicos tem sim características de uma neurose obsessiva coletiva. Mas o cristianismo de Jesus Cristo é um cristianismo suave, leve, com ênfase na Graça e não na culpa, na esperança e não no medo, na celebração e não na tristeza, na vida e não na morte. Nesse sentido Freud estava redondamente enganado. Esse cristianismo não tem nada a ver a neurose obsessiva. “É Deus com a gente exalando vida, força para caminhar”.

Comentários

Anônimo disse…
Texto confuso, até chegar ao seu final, que infelizmente decepciona por sua falsa modéstia e negação de momentos que não podem ser excluídos da vida humana.
Celia Maria disse…
Texto muito esclarecedor. Concordo em grau, número e gênero, exceto quanto as igrejas neopentecostais. Não cabe generalizar o que deveria ser visto caso a caso. Fui de uma igreja neopentecostal, por oito anos. Não vi nesse tempo nada parecido com o descrito no texto. Inclusive aprendi muito sobre Deus e sua graça infinita, sem fardo pesado, sem falsa humildade, enfim anos abençoados na presença do Senhor Jesus. Mas claro que em outras independentemente de serem ou não neopentecostal, pentecostal, tradicional, etc..com certeza há mercantilização da palavra. Mas eles darão conta a Deus de seus atos. Se mesmo nesses lugares uma unica alma se salvar, já valerá a pena, pois haverá uma grande festa nos ceus.
Termino com a paz do Senhor Jesus.

Postagens mais visitadas deste blog

O INFARTO DA ALMA

Existem várias maneiras de entendermos a depressão. Como já disse em vídeos anteriores, a depressão não é resultado de um único fator. Mas sim de vários fatores. Hoje quero falar da depressão como consequência do infarto da alma, fruto do represamento das emoções e dos traumas da vida que não foram elaborados. Conhecemos da medicina a expressão "infarto do miocárdio" , que é uma doença caracterizada por placas de gordura que se acumulam no interior das artérias coronárias, obstruindo a circulação sanguínea. Quando uma dessas placas se desloca forma-se um coágulo que interrompe o fluxo sanguíneo, levando a diminuição da oxigenação das células do músculo cardíaco (miocárdio), gerando o infarto do miocárdio. Na página da Sociedade Brasileira de Cardiologia tem um cardiômetro, que marca em tempo real o número de pessoas que vão a óbito no Brasil por conta de problemas cardíacos. A média é de um óbito a cada 90 segundos. E o infarto do miocárdio é a principal causa de morte no
Amor é uma palavra simples e complexa. Simples por ser amplamente utilizada. Complexa porque só tem sentido quando está relacionada a uma outra pessoa. Usado de modo isolado, solto, amor é uma palavra vaga e sem sentido. O amor não existe sozinho. Amor, do verbo amar, só existe quando é conjugado: eu amo, tu amas, ele ama, nós amamos, vós amais, eles amam. Simples assim. Será? No português usamos a palavra amor para descrever diversas situações, com os mais variados sentidos. No grego usa-se três palavras com significados específicos para a mesma palavra amor no português: ágape - amor divino; philos - amor fraterno; eros - amor apaixonado, sexualizado. É sobre esse tipo de amor, sobre Eros, que quero falar. Farei isso a partir do mito grego entre Eros e Psiquê, como forma de destacar que não existe Eros sem Psiquê. Ou seja, não existe amor sem alma. Antes, porém, julgo importante destacar que eros, de um vem a palavra erotismo; e pornos + graphô, de onde vem a palavra pornografia

A GOTA D'ÁGUA E A DEPRESSÃO

Coitada da última gota d’água. Quando a caixa d’água transborda a culpa é sempre dela. Daí a expressão: “Essa agora foi a gota d’água que faltava” . E lá vai à coitada da gota d'água levando a culpa das demais gotas d'água que durante muito, muito tempo, foram se acumulando, acumulando, até a fatídica gota d'água cair no copo. Segundo uma tabela da SABESP (Companhia de saneamento básico do estado de São Paulo) um gotejamento lento, produz uma perda estimada de 10 litros de água por dia. Se for médio, 20 litros. Se for rápido, 32 litros. Faça as contas aí e veja o quanto de água pode ser desperdiçada a partir de um pinga-pinga. E quando essa água toda se acumula em qualquer lugar, seja um copo, seja numa caixa d'água, não tem jeito. Um dia vai estourar. Vai transbordar. Quando as emoções "negativas" (uso as aspas porque, desde que as emoções sejam admitidas, elas não podem ser chamadas de negativas) são acumuladas no mundo interior de uma pessoa, são com