Todos os homens sonham e tem pesadelos. Só que os sonhos são bons e os pesadelos são ruins. Você já sonhou estar voando sobre as nuvens, passeando num lindo jardim com a pessoa amada, tomando nos braços o filho que você ainda não tem? Os sonhos são tão bons que você acorda com vontade de continuar dormindo.
Pesadelos são horríveis. Você já teve um pesadelo de estar caindo num abismo sem fim, de estar morrendo afogado(a), de estar sendo perseguido(a) por um serial killer? É uma sensação horrível, não é verdade? Se nos sonho você não quer acordar no pesadelo você quer acordar, mas não consegue, e quando consegue você acorda suado, assustado, com o coração acelerado, e sai pela casa toda pra ver se o maldito do personagem que te infernizou no pesadelo não está no quarto, na sala, no escritório. Você faz isso já preparado pra dizer: Vade retro satanas!, que significa: “vaza capeta!”
Com certeza você já ouviu falar ou já leu na Bíblia a história do sonho do Faraó no tempo de José do Egito. O que tratamos como sonho, para o Faraó foi com certeza um grande pesadelo. Aquele negócio de sete espigas magras comendo sete espigas boas, sete vacas magras comendo sete vacas gordas. Que coisa estranha! Imagina Faraó contando esse sonho deitado no divã do consultório de Freud. Não ia dá certo! Elementos simbólicos não faltariam para que Freud falasse do complexo de Édipo, falo, deslocamento, condensação, a busca do deciframento da linguagem dos sonhos. Seria hilário. Só de pensar já dá vontade de rir.
Esse negócio de ficar psicanalisando tudo não dá certo. Algumas pessoas pensam que psicanalista é adivinho, ou seja, uma pessoa que a partir da fala do cliente diz tudo a respeito da vida dele: passado, presente e futuro. Quem faz isso pode ser chamado de qualquer coisa, de pastor a pai de santo, mas nunca um psicanalista. A psicanálise não tem nada a ver com quiromancia, bola de cristal, visões, transes, ou coisas parecidas.
Os sonhos e pesadelos estão presentes na vida para denunciar que se a vida é bela, e é; ela também é constituída de lutas, embates, de momentos em que o ar falta como se você tivesse levado um soco na boca do estômago. Quando passamos por um momento ruim o nosso maior desejo é que ele passe logo, o quanto mais rápido melhor. Quando passamos por um momento bom o que desejamos é que ele seja eternizado. Mas você já percebeu que os momentos ruins são longos, quase uma eternidade, e que os momentos bons são breves, brevíssimos. Até parece que momentos bons e ruins são regidos por tempos diferentes, tipo: uma hora de um momento bom é como se fosse um minuto do momento ruim, e vice versa.
Ninguém gosta de ter pesadelos. Dá para imaginar uma pessoa que ao ir deitar diz: “hoje eu quero ter um pesadelo daqueles!”. Em geral o que todos querem é ter um sono tranquilo e reparador. Daí a expressão: “durma com os anjos”. Mas o que tenho observado em algumas pessoas é um medo de dormir, pois pensam: será que vou ter mais um daqueles pesadelos?”. E lá se vai mais uma noite em claro!
O medo de dormir é de certo modo equivalente ao medo de viver. Quantas pessoas estão vivendo assustadas por conta de um pesadelo que destruiu o ciclo de um lindo sonho em sua vida. É a morte de um ente querido, de um filho, por exemplo. Não existe dor pior para um pai, para uma mãe, do que a dor de ter que enterrar um filho. Pode ser uma separação que jogou pelo ralo uma linda história de amor, como se nada tivesse acontecido, por vezes motivada por uma traição. Pode ser uma doença inesperada, um câncer agressivo que na sua agressividade corrói o sonho de muitas realizações. Pesadelos são assim mesmo: eles chegam e jogam tudo pro alto sem dó e sem piedade.
Mas tem uma coisa interessante. Por vezes um terrível pesadelo no meio da noite nada mais é do que um sinal que você precisa acordar pra fazer xixi. Aí você alivia a bexiga e volta para dormir. Pesadelos são como despertadores. As vezes precisamos passar por uns pesadelos para acordarmos pra vida. De outro modo pesadelos são pausas. Já os sonhos são eternos. Se um acaba você pode e deve construir outros. Feliz sonhos pra você!
Ailton G. Desidério
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