Por vezes na vida a maior tensão não é vivida no momento do trauma, mas no momento pós-trauma, também conhecido como momento pós-traumátido. Se o trauma abre uma ferida é no momento pós traumático que a ferida será ou não fechada. O momento pós trauma pode ser comparado aos tremores sucessivos depois de um intenso terremoto. Por menor que seja o tremor de terra ele sempre suscitará a lembrança de algo terrível que aconteceu no passado. Sendo assim o momento pós traumático pode colocar a pessoa sob um contínuo estado de alerta, sendo o medo e a ansiedade um dos primeiros sinais desse aprisionamento psíquico.
O trauma é o evento, o fato, que na esfera temporal não tem como ser remediado. O tempo não volta. É comum ouvirmos algumas pessoas que tendo passado uma experiência traumática dizerem: “Ah! Se eu não tivesse passado por ali naquela hora.”, “Ah! Se eu tivesse ficado quieto.”, “Ah! Se eu soubesse que isso iria acontecer.”. Em relação ao trauma a partícula condicional “se” abre margem para inúmeras suposições que só servem para aumentar a dor e o sofrimento, suscitado muitas vezes pelo sentimento de culpa. Mas também podem ser consideradas como ruminações da mente que podem ou não contribuir para a elaboração da dor, fruto de um episódio fatídico e irreversível. Na verdade a superação de um episódio traumático está diretamente associada a saúde psíquica, e por que não dizer espiritual, da pessoa que sofreu o traumatizada.
A Bíblia relata diversos episódios traumáticos. Por exemplo, o episódio traumático na vida de Davi por ocasião da sua relação adúltera com Bate-Seba, que culminou com uma gravidez "indesejada". A Bíblia diz que após o nascimento a criança adoeceu e Davi passou sete noites orando e jejuando, pedindo que Deus poupasse a vida do seu filho recém nascido. Infelizmente o menino morreu. Os servos de Davi temiam dar a notícia do falecimento da criança por conta do sofrimento de Davi, pois ele estava muito conturbado. Mas para a surpresa e espanto de todos, ao tomar conhecimento de que o seu filho havia morrido Davi se levantou, tomou um banho, ungiu o seu próprio corpo, entrou na casa do Senhor e o adorou. Depois veio para o palácio e se alimentou (2º Sm. 12:19,20).
Pra muitos, pra mim inclusive, a reação de Davi foi muito estranha. Mas como disse anteriormente a reação ao trauma está diretamente associada a saúde psíquica e espiritual da pessoa traumatizada. Alguns no lugar de Davi teriam se revoltado contra Deus. Afinal de contas que Deus é esse que penaliza a vida de um inocente por conta do pecado dos seus pais? Por muito menos alguns simplesmente abrem mão da sua fé. Outros teriam entrado numa depressão profunda, e outros, quem sabe, jogariam tudo pro alto e saíram como forasteiros por esse mundo de meu Deus. Mas se você acha que Davi foi o máximo é porque você ainda não leu o livro de salmos. Você sabia que setenta por cento dos salmos de Davi são salmos de lamentação.
Um outro exemplo bíblico sobre reação ao trauma: Jó. Os traumas enfrentados por Jó foram pesadíssimos. Você já imaginou o que é uma pessoa receber uma notícia após a outra só falando de tragédia, desgraça? Foi isso o que aconteceu com Jó. Ele perdeu todos os filhos e todos os bens de maneira repentina. Jó dormiu rico e acordou miserável. Se não bastasse isso ele perdeu a própria saúde ficando com o corpo repleto de chagas. Jó perdeu tudo e todos. A bem da verdade, a esposa dele ficou com ele até o final, mesmo tendo dado um conselho nada convencional: "amaldiçoa teu Deus e morre". Devemos tomar cuidado para não crucificarmos as pessoas por conta de suas palavras intempestivas.
Mas se você está pensando que Jó era mais crente do que você é porque você só conhece uma parte da história. Leia o livro todo. Veja as lamentações que ele proferiu; inclusive amaldiçoando o dia do seu nascimento. Que blasfêmia! Nada bonito para um homem de fé, não é verdade? Nada disso. Quem disse que crente não sente dor?
Uma pergunta muito comum no período pós-traumático é: "Por que Deus permitiu que isso acontecesse isso comigo?". Tal pergunta para alguns é uma verdadeira blasfêmia. Não entendem que perguntar é uma maneira de elaborar a dor e o sofrimento. Não entendem que algumas perguntas são apenas perguntas, desabafos, válvulas de escape, sem nenhuma necessidade de respostas. Não entendem que algumas das nossas interrogações refletem o nosso desamparo frente aos traumas que enfrentamos na vida e que com elas não negamos a existência de Deus, mas sim o quanto somos frágeis e precisamos Dele.
O fato é que a vida é traumática por natureza e nem todos os traumas podem ser evitados. Mas uma coisa é certa: com fé em Deus todos os traumas podem ser superados.
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