Pular para o conteúdo principal

Tum-Tum! Tum-Tum! O Ritmo da Vida!



Uma expressão que se repete na narração da criação do mundo é: “e viu Deus que era bom”. Mas depois da criação do homem a expressão é a seguinte: “E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom;”. Dentre tantas coisas que podemos falar sobre Deus podemos dizer que Ele é um artista, no melhor sentido da palavra. Imaginemos por alguns instantes Deus formando e dando os traços do corpo humano: põe isso aqui, aquilo ali, tira um pouco daqui, põe mais um pouco ali. Pronto! Aí Ele sopra nas narinas do homem e o coração começa a bater: tum-tum-tum! É o ritmo da vida!

O ritmo da vida é dado pelo órgão surdo e oco, semelhante a alguns instrumentos de percussão, que fica mais ou menos no meio do nosso peito: o coração. São aproximadamente setenta batidas por minuto. Isso é que é musicalidade. A vida é musical por natureza. Se o coração dita o ritmo. Nós colocamos a melodia. Melodia, melancolia, paralisia. A sequência é meramente fonética. Mas tem lá sua implicações em relação ao ritmo que algumas pessoas estão dando a vida. Uma pena!

Melodia tem a ver com poesia. Tem a ver com o modo como você vê e interpreta as coisas, os fatos da vida. Pra uma pessoa desatenta um beija flor no meio de um jardim não passa de um pássaro voando. Mas a mesma cena vista por um poeta pode dar origem a uma linda poesia, quem sabe uma música, um quadro, uma escultura, um livro, uma melodia. O ritmo é inerente a vida. A história também. Não existe livro sem páginas e nem vida sem história. Mas a melodia tem a ver com a percepção e a interpretação que cada um dá aos fatos da vida.

Não criamos a nossa vida. Nós a recebemos. É mais ou menos assim: “Puf! Lá vou eu! Estou vivo! E! Fui!” É mais ou menos assim. Seria cômico se não fosse triste. Não somos autores solitários da nossa história. Mas isso não significa dizer que sejamos reféns da nossa história. Somos co-autores; e isso é mais do que suficiente para que possamos colocar uma vírgula aqui, como forma de recuperarmos o fôlego perdido. Um ponto ali, quando queremos mudar o rumo da prosa. Um ou mais verbos, para mostrarmos que estamos na ativa. Um ou mais adjetivos, para revelarmos algo que não estamos conseguindo explicar ou escondermos algo que não queremos falar. E assim vamos dando os contornos de uma história que é mais nossa do que dos outros.

Qual o ritmo que você está dando a sua vida? Musicalmente falando existem pessoas que são totalmente fora de ritmo. Eu sou uma delas. Mesmo que quisesse nunca conseguiria fazer parte da bateria de nenhuma escola de samba. Nem mesmo do bloco dos sujos. Poderia, quando muito, tocar um samba de uma nota só: melancólico, triste, isolado. Mas esse eu não quero. Tem gente que gosta de viver isolada, sozinha, quietinha lá no seu mundinho. Não porque admiram o sossego, a calmaria. É porque estão fugindo. Fugindo da vida!

A vida é bela! Você já assistiu o filme que tem esse título? Nele o autor conseguiu retratar muito bem que se não temos autonomia sobre a história da vida, temos, podemos e devemos usar a nossa criatividade, acima de tudo a nossa fé, para fazermos do ritmo que a vida ou que as pessoas tentam nos impor, uma linda e bela melodia. Romântico demais? Pode ser! Mas não foi assim que Aleijadinho, com todas as suas limitações motoras, esculpiu as mais belas obras de arte? Não foi assim que Beethoven, mesmo com o seu problema de surdez, compôs as mais belas sinfonias?

É melhor pintar a vida com cores vivas do que viver sob o toldo de um céu sempre acinzentado. É melhor ter esperança do que viver escravo do medo. É melhor inventar, reinventar, do que aceitar o pacote pronto. É melhor gritar, espernear, se for preciso brigar, do que viver a vida esperando a morte chegar. É melhor cantar, mesmo que chorando, do que rir sem ter vontade. É melhor viver do que morrer.

O seu coração está batendo: Tum-tum! Tum-Tum! Tum-Tum? Muito bom. Agora é só escrever os versos e colocar a melodia. Parou??? Ih!!! Não dá mais tempo!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O INFARTO DA ALMA

Existem várias maneiras de entendermos a depressão. Como já disse em vídeos anteriores, a depressão não é resultado de um único fator. Mas sim de vários fatores. Hoje quero falar da depressão como consequência do infarto da alma, fruto do represamento das emoções e dos traumas da vida que não foram elaborados. Conhecemos da medicina a expressão "infarto do miocárdio" , que é uma doença caracterizada por placas de gordura que se acumulam no interior das artérias coronárias, obstruindo a circulação sanguínea. Quando uma dessas placas se desloca forma-se um coágulo que interrompe o fluxo sanguíneo, levando a diminuição da oxigenação das células do músculo cardíaco (miocárdio), gerando o infarto do miocárdio. Na página da Sociedade Brasileira de Cardiologia tem um cardiômetro, que marca em tempo real o número de pessoas que vão a óbito no Brasil por conta de problemas cardíacos. A média é de um óbito a cada 90 segundos. E o infarto do miocárdio é a principal causa de morte no

A GOTA D'ÁGUA E A DEPRESSÃO

Coitada da última gota d’água. Quando a caixa d’água transborda a culpa é sempre dela. Daí a expressão: “Essa agora foi a gota d’água que faltava” . E lá vai à coitada da gota d'água levando a culpa das demais gotas d'água que durante muito, muito tempo, foram se acumulando, acumulando, até a fatídica gota d'água cair no copo. Segundo uma tabela da SABESP (Companhia de saneamento básico do estado de São Paulo) um gotejamento lento, produz uma perda estimada de 10 litros de água por dia. Se for médio, 20 litros. Se for rápido, 32 litros. Faça as contas aí e veja o quanto de água pode ser desperdiçada a partir de um pinga-pinga. E quando essa água toda se acumula em qualquer lugar, seja um copo, seja numa caixa d'água, não tem jeito. Um dia vai estourar. Vai transbordar. Quando as emoções "negativas" (uso as aspas porque, desde que as emoções sejam admitidas, elas não podem ser chamadas de negativas) são acumuladas no mundo interior de uma pessoa, são com

A FORÇA DE ATRAÇÃO DO NADA

Certa ocasião, quando participava de um congresso na cidade de Gramado, aproveitei a oportunidade para explorar as belezas daquela região. Foi aí que conheci uma das vistas mais lindas do Brasil: o cânion Itaimbezinho. Uma vista simplesmente linda. Se você ainda não conhece, vale a pena conhecer. Mas tome cuidado, a altura do Cânion Itaimbezinho é de 720m e você sabe: o abismo atrai, deixa a gente meio zonzo e... O que existe no abismo para que ele exerça essa força de atração sobre as pessoas? Não existe nada. Mas, o abismo é um nada que atrai. Como disse Nietzsche: "Quando você olha muito tempo para o abismo, o abismo olha para você." O nada, o abismo, tem a ver com a força especulativa e fantasiosa do desejo. O desejo é o canto da sereia que atrai os viajantes incautos. É por sermos seres do desejo que nos aproximamos do abismo. Somos atraídos por esse nada pleno que é o desejo, que em algumas ocasiões nos coloca numa verdadeira enrascada. Isso não significa dizer qu