“Nossa! Nossa! Assim você me mata!” Esse é o novo fenômeno musical com mais de cem mil acessos, que surgiu no Brasil e atravessou o mundo: “Nossa! Como o Brasil está sendo reconhecido lá fora!” A questão é que a futilidade desta e de outras músicas com forte apelo sexual não é um contraponto do nosso tempo e nem da cultura brasileira. É a realidade nua e crua de uma sociedade que acabou com o romantismo, separando amor e sexo.
Não dá para negar que o prazer sexual é uma das grandes forças da vida. Mas daí a transformá-lo num deus, num objeto de consumo, é perigoso, muito perigoso. Na conta do prazer sexual muitas vidas tem sido afetadas e destruídas, especialmente a de muitas crianças e adolescentes, pela vida da pedofilia e da prostituição infantil. É a lei do mercado, do mercado do sexo, que na conta do prazer pelo prazer tem desvalorizado, traumatizado e sacrificado muitas vidas.
O sucesso das músicas com forte apelo sexual é sinal de que o mercado do sexo tem sustentado e alavancado muitos outros mercados. Na busca do lucro a qualquer preço estão banalizando o sexo, o orgasmo. Penso que se o apelo sexual fosse retirado da propaganda de alguns produtos muitas industrias iriam simplesmente a falência. Infelizmente em alguns casos o investimento no marketing é maior do que o investimento no aprimoramento da qualidade dos produtos oferecidos. Tem cada porcaria!
Uma coisa é certa: com a exacerbação do apelo sexual não podemos mais manter o silêncio hipócrita em relação a esse assunto. Na verdade as questões relativas ao sexo sempre estiveram presentes na família, na igreja, e em todos os lugares, mas de um modo bem mais sutil e disfarçado, porque não dizer abafado.
Uma das coisas boas do nosso tempo é que os assuntos outrora secretos como, por exemplo, as questões relativas a sexualidade, podem ser tratados e conversados naturalmente. Hoje muitas crianças sabem muito mais sobre sexo do que muitos adultos podem imaginar. É de arrepiar! Isso só demonstra que não existe mais espaço para puritanismo e nem para uma vigilância persecutória.
Precisamos falar sobre os temas ligados a sexualidade com naturalidade e propriedade. Os pais precisam falar sobre sexo com os filhos de maneira gradativa e continua. A partir de que idade? Não existe uma idade certa, do tipo: “chegou a hora. Vamos conversar!”. O momento é determinado pela conjugação das primeiras perguntas da criança e das múltiplas oportunidades apresentadas. Uma coisa é certa: é melhor ensinar em casa do que esperar que o filho aprenda com os amigos na escola, e até mesmo com o professor(a) em sala de aula. A responsabilidade da escola é ensinar. A dos pais é educar. Penso que essas atribuições devem estar muito bem delimitadas e deveriam até ser incentivadas pelo governo, mas infelizmente não é isso o que temos visto.
Para as questões relativas ao prazer sexual não cabe mais o saudosismo do tipo: “no meu tempo não era assim.”. Até porque no passado as coisas também não eram fáceis. Eram camufladas. Tudo acontecia, como diz o ditado, “por debaixo dos panos”; literalmente falando. Exaltar as “virtudes” do passado em detrimento do presente é mais do que fuga, é amnésia.
Parafraseando a chamada do filme “Tropa de Elite II”: “o desafio agora é outro”. Antes era mais fácil negar, tampar, ignorar, do que abordar o assunto da maneira que ele deveria ser abordado. Hoje não tem como. A música está aí e é bem provável que o seu filho, ou quem sabe alguns irmãos menos avisados da igreja já estejam cantando: “Nossa! Nossa! Assim você me mata”. Seria cômico se não fosse triste! O fato é que não dá mais para tampar o sol com a peneira de uma espiritualidade desencarnada e assexuada.
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