Com os cabelos substituídos por serpente venenosas, com presas de javali, mãos de bronze e asas de ouro, medusa assustava a todos: tanto por sua feiura, como por conta dos seus gritos pra lá de horripilantes. Medusa era histérica por natureza. Se não bastasse tudo isso era possuidora de um olhar petrificante, hipnotizante, que transformava em pedra todos os que a fitavam.
Antes de Medusa ser Medusa, tal como ficou conhecida, ela era uma jovem muito bonita, com cabelos longos e cacheados. O pecado de Medusa foi querer competir em beleza com Minerva, a deusa da sabedoria, filha de Júpiter. Deu no que deu. Esse negócio de uma mulher competir com outra mulher, pra ver quem é a mais bonita não dá certo. Infelizmente essa é uma armadilha muito comum entre as mulheres com corpos esculturais, naturais ou produzidos, que disputam entre si o título fictício da mulher mais bonita. É por isso que dizem que a maior inimiga da mulher é uma outra mulher. Mulheres!
Segundo o relato bíblico Bate-Seba era uma mulher muito formosa. Até que numa linda tarde de primavera, com os pássaros cantando, as flores desabrochando, lá estava ela, na sua intimidade, tomando aquele banho refrescante, quem sabe passando óleo de mandrágoras pelo corpo. Mal ela sabia, ou sabia muito bem, que do outro lado, no terraço do seu imponente castelo, estava Davi, quem sabe pesaroso e entediado com tantas vitórias que havia acumulado – o sucesso é sempre mais perigoso do que os fracassos. Davi deu uma espiadinha e viu Bate-Seba bela e formosa, nua, esbanjando sensualidade. Davi a cobiçou e adulterou com ela. Homens!
O que Medusa tem a ver com Bate-Seba, e vice-versa? Tomando as devidas proporções entre o mito e a realidade, podemos dizer que Medusa e Bate-Seba petrificaram a história daqueles que se deixaram seduzir por seus encantos, ou pela falta deles.
Os amantes de Medusa foram atraídos por seu olhar e acabaram petrificados. Davi deixou-se seduzir pelo desejo de possuir Bate-Seba e ficou petrificado espiritual e emocionalmente. As consequências apareceram de imediato e a vida de Davi virou de cabeça pra baixo, com reflexos diretos na própria família. A história diz que Amnom violentou sua meia irmã Tamar, Absalão matou Amnom e pra completar se rebelou contra o próprio pai, buscando tirar-lhe o trono.
O que o mito de Medusa e a história de Bate-Seba nos mostram é que ações tem consequências. É a velha história: podemos fazer escolhas. Só não podemos escolher as consequências das nossas escolhas. Medusa e Bate-Seba foram vítimas da própria história. Vítimas da baixo auto-estima, assim como muitas mulheres hoje que usam os seus corpos como objeto do desejo masculino, na busca do infame título de mulher mais bonita. Mulheres que quando jogadas de lado, descartadas, frustradas, aviltadas, abusadas, perdem a beleza e o encanto tornando-se amargas e petrificadas em seus sentimentos. Desencantadas com a vida e com os relacionamentos, elas dizem: “todos os homens são iguais”.
Um foi o triste fim da bela Medusa, que mesmo perdendo a cabeça continuou infernizando a vida de todos os que atravessaram a sua frente. Outro foi o fim de Bate-Seba. Uma coisa é o mito. Outra bem diferente é a realidade. O mito não pode ser mudado. Está dado! Mas a realidade, a história de vida, pode.
Bate-Seba é citada entre as santas mulheres que fizeram parte da genealogia de Jesus. Humanamente falando Jesus é fruto de uma pulada de cerca, de uma escapulida, de uma traição. Um filho bastardo, como diriam alguns. O que significa isso? Graça de Deus sob a vida de Bate-Seba. Poder de recuperação! Esperança de que na vida nem tudo está perdido.
Medusa é uma ficção. Bate-Seba uma realidade. Equívocos existem. Erros acontecem. Ninguém é perfeito. Não podemos mudar o passado, mas podemos usar as experiências do passado para escrevermos uma nova história no presente, e deixarmos um legado para o futuro. A escolha é de cada um.
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