OS SOFRIMENTOS DA VIDA!
“Quem passou pela vida em branca nuvem
e em plácido recanto adormeceu,
quem não sentiu o frio da desgraça,
quem passou pela vida e não sofreu,
foi espectro de homem, não foi homem,
só passou pela vida, não viveu.”
(Poema “Ilusões da Vida” - Francisco Otaviano)
A vida é muito intrigante e por isso mesmo fascinante. De um lado ela se apresenta como suprema, toda poderosa e indomável. Do outro, frente as adversidades, os traumas, as catástrofes, é frágil, vulnerável e incerta. Viver é conviver com os extremos: potência e impotência, força e fraqueza, esperança e desesperança, fé e descrença. A grande diferença entre a vida e a morte é que a vida oscila, pulsa, vibra. A morte, ao contrário, é linear, serena e tranquila. Você já observou como os cemitérios são calmos,mas ao mesmo tempo ninguém quer ir pra lá? Viva a vida com toda a sua agitação.
A morte movimenta a vida. O grande anseio da ciência, bem representado pelo mito do elixir da juventude, é domar a morte. Com o avanço da medicina muitas doenças até bem pouco tempo tidas como incuráveis hoje são plenamente curáveis. Com isso a expectativa de vida tem aumentado e a quem diga que daqui a uns trinta anos não será incomum pessoas com cem, cento e vinte, e até cento e cinquenta anos. Mas não podemos reduzir a vida ao acúmulo de dias, semanas, meses e anos.
Infelizmente a medicina que tem acrescentado dias e anos a vida tem também produzido verdadeiros franskensteins. Nem tanto pela feiura do corpo cada vez mais esticado e retesado de maneira desuniforme por conta dos excessos das cirurgias plásticas, dos implantes das próteses cancerígenas de silicone e do famoso botox, mas por conta da frieza da alma. É que a vida no sentido pleno da palavra é potência, força, vibração, transformação, invenção, esperança e fé.
A invasão da medicina sobre os problemas da alma tem criado um número crescente de pessoas dopadas, sem vida, por conta do uso indiscriminado dos ansiolíticos e antidepressivos. No artigo “Os sofrimentos da vida”, a Dra. Analice Gigliotti diz que: “não é ruim se sentir ansioso e que os ansiolíticos só são indicados em casos patológicos. Quando a ansiedade prejudica a pessoa. Quando ela não consegue trabalhar, sair de casa, prejudica as relações pessoais. Isso é uma doença”. (ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria - http://abp.org.br/2011/medicos/archive/5670). É necessário que os médicos sejam mais criteriosos ao receitarem ansiolíticos e antidepressivos, e que orientem mais a busca do apoio dos analistas.
Toda e qualquer promessa de eliminar por completo os sofrimentos da vida é falsa. Se é fato que não nascemos para sofrer é fato também que não nascemos num mundo cor de rosa. Infelizmente promessas falsas e infundadas têm sido feitas até mesmo por algumas igrejas, que prometem o que nem mesmo Deus prometeu: uma vida com tapete vermelho, símbolo de prosperidade; e com total isenção de todo e qualquer sofrimento, símbolo de uma saúde literalmente de ferro. Os que falam tais coisas são enganadores, mentirosos, lobos vestidos de ovelhas, latifundiários do inferno.
Mas em Cristo nós não somos mais do que vencedores? (Romanos 8:37). Somos! Mas como bem disse Thomas Heimann: “Somos vencedores, invencíveis, diz a Bíblia, mas não somos invulneráveis.” (“Sofrimento, Resiliência e fé”. Implicações para as relações de cuidado. Lothar Carlos Hoch e Suzana M. Rocca L. Editora Sinodal. P. 83).
A dor não pode ser ignorada e muito menos cultuada. Quem tem dor quer se ver livre dela e isso é mais do que legítimo. Mas acreditar que é possível viver sem dor só faz acentuar a dor no momento do sofrimento. As dores da vida estão aí pra serem vividas e superadas.
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