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EU CONSIGO


Quantos vezes culpamos outras pessoas pelos infortúnios e insucessos que enfrentamos na vida, ignorando o fato de que em muitos casos nós somos os grandes limitadores de nós mesmos. Você já viu um time profissional de futebol que mesmo perdendo de goleada, abandonou o jogo antes dos 45 minutos do segundo tempo? Eu nunca vi. Mas já vi algumas boas brigas por conta de alguns minutinhos a mais na prorrogação. Desistir da luta e culpar pessoas próximas ou distantes, mesmo que elas tenham certa responsabilidade, não resolve o problema. Também não adianta ficar se culpando. A culpa é como uma pá: ela cava o buraco e acaba enterrando aquele que a princípio gostaria de sair dele.

Se o jogo se ganha jogando, a vida se vive vivendo. Não tem saída. Ou melhor, até tem. Mas não é boa. Ou assumimos a história da nossa vida ou nos tornamos reféns dela. Se a vida como muitos dizem é um filme, uma novela, então não podemos assumir o papel de coadjuvantes, mas sim de protagonistas da nossa própria história.

“Eu não consigo!”. Essa é uma expressão comum na vida de muitas pessoas e por isso elas não conseguem avançar. Não vai aqui nenhum juízo em relação a dor ou ao sofrimento de ninguém. Até porque não devemos mensurar e muito menos menosprezar o sofrimento de qualquer pessoa, pelo simples fato de que cada um um vive o que tem que viver e carrega a cruz que tem que carregar. Sofrimento não se compara, muito embora alguns insistam em animar uma pessoa abatida, um parente, um amigo, tomando como exemplo uma outra pessoa que ele julga viver uma situação pior. O fato é que alguns não conseguem superar as suas dificuldades, o seu sofrimento, não por conta da falta de ajuda, mas simplesmente porque boicotam a si mesmas assumindo na vida o papel de vítimas.

A história está repleta de exemplos de pessoas que decidiram enfrentar os seus problemas de cabeça erguida e que disseram pra si mesmas: “Eu consigo”. Com tal determinação conseguiram superar e vencer as adversidades e limitações impostas pela vida. Não se trata de uma mera afirmação, fruto de um pensamento positivo, mas sim de uma boa estrutura interna: recursos emocionais, psicológicos e acima de tudo espirituais, que capacitam aquele que sofre a não fugir do problema, mas enfrentá-lo.

Não podemos mudar uma situação externa sem antes reorganizarmos o nosso mundo interior: os nossos pensamentos, as nossas emoções, a nossa vida espiritual. Para aqueles que pensam que é possível vencer na vida sem se implicar com a vida, sem lutar pela vida, sem pagar o preço que a vida exige, só resta uma saída: a alienação.

Alienado, alienação, são termos jurídicos. Quando compramos um bem em prestações, um carro, por exemplo, nós podemos levá-lo pra casa e depois viajarmos pra onde quisermos, mas só poderemos dizer que ele é nosso quando quitarmos a última prestação. Se não honrarmos o compromisso assumido o bem alienado é confiscado. Se pagamos tudo corretamente o bem perde o estatuto de alienado e passa a ser nosso de fato e de direito.

A vida não pode ser alienada. Quem tem a vida a tem de fato e de direito. Não dá pra trocar, mas dá pra compartilhar. Não dá pra viver o sofrimento e a alegria do outro, por mais bem intencionado que se esteja. Mas é possível se solidarizar com aquele que sofre ajudando-o a vencer suas dificuldades, e alegrar-se com aquele que já está alegre, deixando-o um pouco mais feliz.

Aquele que diz: “não consigo”, sem pelo menos tentar, está simplesmente alienando a sua vida a uma outra: o pai, a mãe, o esposo, a esposa, o filho, qualquer outra pessoa, ou até mesmo uma instituição, que ele tenha elegido. Está passando para o outro uma procuração, uma concessão, com plenos direitos para que ele possa explorar, humilhar, desprezar, usar, abusar, e jogar fora quando bem quiser.

Quando você diz: “Eu consigo”, você não está desprezando a ajuda de ninguém. Você está simplesmente dizendo que aceita ajuda, mas que não precisa de muleta.



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