Não sei se você assistiu o filme Shrek. Aqui em casa todos assistimos, e até eu gostei da historinha de amor as avessas, quando o velho Ogro se apaixona pela princesa Fiona. O amor é lindo, mesmo que os personagens sejam horríveis. Mas daí falarmos que toda a noiva é bonita não é verdade. Muito menos compararmos alguns noivos a um casal de pombinhos. Chega a ser uma injúria comparar os pobres animaizinhos, símbolos da paz, como verdadeiros carcarás do sertão, que usam o bico para destroçar a presa. O que tem de noivos se bicando e mutilando antes do casamento! Imagina quando casarem.
Lendo o “Dicionário de Mitos Literários”, de Pierre Brunel, tomei conhecimento de que o ogro “é um personagem do conto popular da tradição oral africana e europeia”. Descobri que aquele monstrinho bonitinho do filme é a personificação do cão, do inferno, do diabo. Brunel, citando “O dicionário Bloch et Wartburg”, diz “que a palavra aparece em 1300 com sentido moderno e que ela – provavelmente uma alteração da forma ‘orc’ do latim Orcus, significando ‘deus da morte’ e ‘inferno’ – teria sobrevivido nas crenças populares para chegar à lenda do ogro.”.
Quando tomei conhecimento disso falei pra mim mesmo: “que idiota que eu fui pelas vezes que torci pelo amor da princesa com o bicho ruim.”. Brincadeiras a parte, quantas vezes torcemos e até incentivamos um relacionamento de um amigo, uma amiga, jovem ou adulto, viúvo(a), divorciado(a), quando na verdade observamos claramente que não vai dar certo, não é mesmo? Tudo bem que a decisão de casar ou não casar tem que ser das pessoas envolvidas, do homem e da mulher, da moça e do rapaz. Mas como diz o ditado: “quem avisa amigo é”. Se a pessoa envolvida não quer ver, aí não tem jeito. Só nos resta torcer pra dar certo.
Esse negócio de estar apaixonado(a) é um caso sério. Nada contra a paixão. Sem ela qualquer relacionamento que antes era como um jardim, acaba virando um deserto, um verdadeiro cemitério de bons relacionamentos. É preciso saber que a paixão não sustenta a relação de ninguém. Nenhum casal vive eternamente apaixonado. Paixão tem a ver com a pulsação do coração, ou seja, tem ritmo. As vezes a paixão se transforma no samba do crioulo doido, ninguém se entende. Outras vezes vira um samba de uma nota só, porque só um investe no relacionamento. O bom mesmo é quando a paixão se transforma numa bela sinfonia, com pausas que promovem a reflexão e assimilação do momento lindo, com sussurros que arrepiam, com a força e o volume que arrebata os corações, quebrando a monotonia.
Descobri que os ogros aprisionam suas vítimas no mundo subterrâneo, no inferno, “de onde ninguém volta”. Infelizmente, a expressão “meu casamento é um inferno” não é uma expressão incomum hoje em dia. Se em alguns casos o casamento é um inferno, é possível facilmente se libertar dele. O divórcio está aí pra isso mesmo. Inclusive com algumas facilidades legais concedidas pelo governo. Mas as vezes livrar-se do parceiro, da casa, do espaço comum, não livra o coração, e nem a mente do inferno, ou seja, dos traumas.
Voltaire, disse: "As paixões são como as ventanias que incham as velas do navio. Algumas vezes o afundam, mas sem elas não se pode navegar.". Bonito, não é mesmo? Peguei na internet!
Esse negócio da princesa se apaixonar pelo ogro, pelo sapo, como costumamos dizer, é coisa do inferno. Portanto, tome muito cuidado com os arroubos da paixão. Se a paixão dá o brilho, é o amor que sustenta. Amor e paixão não se rivalizam, se completam. Se a paixão é cega, o amor enxerga muito bem. Abra os olhos!
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