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Quantas pessoas sofrem por se classificarem ou por serem classificadas como pessoas que possuem uma baixa autoestima? Quantas pessoas se tornam reféns dos métodos e técnicas cada vez mais mirabolantes na busca de uma boa autoestima? Autoestima existe? Se existe, o que ela significa?

Dizem que a autoestima está relacionada ao amor que a pessoa tem por si mesma. Mas de que tipo de amor estamos falando? Na mitologia grega encontramos a história de Narciso; um jovem muito bonito e desejado por praticamente todas as ninfas. Narciso se achava e assim menosprezava todas as belas jovens que se sentiam atraídas por tanta beleza. Isso até um dia em que uma dessas belas jovens rogou aos deuses que castigasse Narciso por tamanha soberba e vaidade. Autoestima não tem nada a ver com esnobação. Autoestima tem a ver com confiança, segurança, respeito por si mesmo e consequentemente pelo próximo. Quem se respeita, desrespeita o outro. Em geral, pessoas com problemas de autoestima tendem a projetar no outro as "falhas" que não conseguem ver em si mesmas. É a velha história de ver o cisco no olho do outro, tendo uma trave no próprio olho. Isso não é bom! Quem age desse modo mais cedo ou mais tarde acaba bebendo do próprio veneno. A vingança dada para Narciso veio por Eros, a deusa do amor. Certo dia, cansado de andar pelos belos campos, Narciso encontra um lago de águas tão límpidas, que formava um belo espelho natural. Ele para se refrescar e saciar a sua sede. Eros não perde tempo. Dispara uma de suas flechas que atingi de modo certeiro o coração de Narciso. Ato contínuo, Narciso vê a própria imagem refletida no lago e fica terrivelmente apaixonado por si mesmo, sem saber que o que estava vendo era o reflexo da sua própria imagem. Movido por uma paixão arrebatadora, Narciso tenta abraçar e beijar o que considerava ser o grande amor da sua vida. Mas, sempre que fazia isso, a imagem desaparecia. É assim que tomado por uma paixão arrebatadora por si mesmo, por sua própria imagem, mas sem se dar conta disso, que Narciso insiste em ficar a beira do lago esperando e tentando sofregamente que o seu amor fosse retribuído. Pobre Narciso. Um jovem tão bonito e tão vaidoso, perde o elã pela vida e vai definhando, definhando, até a morte. Autoestima e narcisismo são conceitos totalmente opostos, mas às vezes podem ser confundidos. Em muitas ocasiões a aparência das coisas não corresponde a essência das coisas. Ou seja, às vezes, o que aparenta ser uma boa autoestima pode ser uma patologia do eu. Desse modo, Narciso hoje pode ser representado pela exposição midiática de corpos esculturais, curvilíneos. Corpos de uma beleza estética impecável, mas que em alguns casos revelam uma autoestima deplorável. Mas se a história de Narciso é um mito. O conceito de uma boa autoestima também é. O mito de Narciso é uma tentativa de explicar a relação complicada que invariavelmente temos com o nosso eu. Já o mito de uma boa autoestima tem a ver com uma postura de não afetação frente as mais variadas situações da vida. É a sensatez elevada ao cubo ou o cúmulo da sensatez. Tipo sentar em cima do formigueiro e não sentir nada. É possível? Claro que não! É mito! É ilusão! Uma boa autoestima não pode ser vista como sinônimo de segurança e equilíbrios plenos. Entre o mito de Narciso e o mito de uma boa autoestima, existe uma vida que palpita, que equilibra, desequilibra e se reequilibra. Nesse sentido, ter uma boa autoestima não tem a ver com alcançar um ponto "x" no desenvolvimento pessoal. Muito pelo contrário, ter uma boa autoestima, significa ter maleabilidade para aprender e crescer com todas as situações da vida. Nem sempre a pessoa consegue isso sozinha. Por vezes precisa de ajuda, de apoio. Ailton Desidério

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